segunda-feira, 28 de maio de 2007

Sociedade Atrox


Eis a sociedade violenta.
Comida violenta. Música violenta. Ritmo violento. Correria violenta. Violentas são os produtos para consumo e violento é o próprio consumir, pois é desenfreado - tão rápido descartamos quanto destruimos os recursos do mundo. Violento é o olhar sobre o outro - sempre um adversário. Violentos valores das coisas sem valor. Aqui, extermínio e exclusão são sinônimos, variando só o grau de velocidade em que ocorrem. Violência via tv, via internet, via desejo. Violência especulativa de um mercado monstruoso que só faz crescer e engolfar. Violenta carga de trabalho. Violenta perda de direitos. Violenta é a impunidade.


Mesmo a apatia e a resignação de muitos tem sua violência camuflada. Produtos nas prateleiras com suas violentas e fortes cores e marcas. Violência que aflora naquele que não tem pela necessidade de ter o que não precisa e a violência daquele que tem em violentamente querer mais. Violentos desejos. Violentas necessidades forjadas. Violenta é a mídia e a tecnologia - rápidas e impiedosas demais para serem seguidas a tempo. Violência virtual levando a violência real. E vice-versa. Óleo viscoso e ruim que afoga as relações. Que esconde o humano. Que destrói o mundo.


Violência aceita que forja grades para as casas das pessoas. Violência de vida vigiada por câmeras 24 horas por dia. Um reality show de violência. Poses e gestos de celebridades violentamente repetidos e difundidos a exaustão via tv, via internet, via desejo.


Violenta moda que estica cabelos, incha lábios, bundas, peitos e bochechas. Violenta perseguição pelo corpo perfeito que plastifica pessoas, refabrica o ser humano num deixar-de-ser que extermina o autêntico, destrói o espontâneo e violentamente esconde como realmente somos e os efeitos naturais do Tempo. Sociedade violenta do voto violento, comprado e trocado por uma dentadura, um emprego ou outra corrupção. Violenta burocracia morosa que nos mata silenciosamente nas filas dos hospitais. Violentas corporações privadas e suas soluções pagas para cobrir a indigência do que é público e universal (saúde, segurança e educação). Violentos políticos e suas soturnas negociações. Violentas comissões.